Tensão na Antártica: Cientistas em conflito e pedidos de resgate

Um grupo de cientistas que está trabalhando em uma estação de pesquisa remota na Antártica enfrentou um grave conflito após um membro da equipe ser acusado de assalto. A base de pesquisa, administrada pela África do Sul e localizada a cerca de 170 km da borda da plataforma de gelo, é de difícil acesso, com uma equipe média de 10 pesquisadores. A situação se intensificou após a divulgação de denúncias sobre comportamentos inadequados entre os membros da equipe, levando um porta-voz do governo sul-africano a confirmar que “houve um assalto”.
Diante da gravidade das acusações, o Ministério do Meio Ambiente da África do Sul afirmou que estava lidando com as preocupações “com a maior urgência”. Segundo informações do jornal Sunday Times, alguns membros da equipe pediram resgate. O ministério também destacou que todos os integrantes da expedição passaram por avaliações rigorosas, incluindo verificações de antecedentes, avaliações médicas e psicométricas, que todos aprovaram.
A Estação de Pesquisa Sanae IV, que recebe expedições desde 1959, está situada a mais de 4.000 km do continente sul-africano. As condições climáticas severas muitas vezes isolam os científicos na estação, onde a equipe atual deveria permanecer até dezembro. Normalmente, essas expedições, compostas por uma variedade de técnicos e especialistas, ocorrem sem incidentes, mas a situação atual é marcada por tensões.
No último domingo, relatos indicaram que um membro da equipe enviou um e-mail alertando sobre “comportamentos profundamente perturbadores” de um colega, além de descrever um “ambiente de medo”. Um porta-voz do governo sul-africano explicou que o suposto assalto foi motivado por uma disputa relacionada a tarefas que exigiam mudanças de cronograma devido a condicionantes meteorológicos.
Embora incidentes em pesquisas na Antártida sejam raros, eles já ocorreram. Em 2018, houve relatos de um esfaqueamento na estação de pesquisa russa Bellingshausen. Psicólogos afirmam que a solidão e o isolamento podem impactar o comportamento humano. Craig Jackson, professor de psicologia da saúde no ambiente de trabalho, observa que conflitos podem surgir rapidamente em situações de isolamento forçado, muitas vezes devido a questões triviais como hierarquia, alocação de tarefas e até mesmo detalhes sobre lazer ou porções de comida.
Gabrielle Walker, cientista que participou de expedições na Antártica, ressaltou os riscos de trabalhar em grupo reduzido e em contato constante. Pequenas irritações podem se intensificar devido à falta de estímulo externo, levando a um estresse significativo entre os membros da equipe. Fontes na comunidade científica antártica indicaram que a África do Sul dispõe de um navio e aeronaves capazes de enfrentar as condições climáticas adversas se um resgate for necessário. Contudo, qualquer operação de resgate enfrenta desafios severos, incluindo temperaturas abaixo de zero e ventos fortes.
Esse tipo de situação ressalta a importância de uma boa gestão e comunicação em ambientes isolados, onde as interações são limitadas e o estresse pode rapidamente escalar. O evento destaca também a necessidade de apoio psicológico contínuo para equipes em expedições de longa duração, especialmente em localidades extremas como a Antártica.
Leia o texto original em: https://www.bbc.com/news/articles/cgkm0k2j6edo