Fofoca ou Babaleia?

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA trouxe uma onda de incertezas, principalmente no setor econômico. Amber Walliser, uma contadora de Ohio, compartilha essa preocupação, tendo decidido gastar $2.000 em eletrodomésticos logo após a eleição, acreditando que os preços aumentariam devido às tarifas que o presidente implementaria. No entanto, essa compra se revelou um alívio temporário: hoje, sua família está planejando economizar o máximo possível, temendo a segurança de seus empregos e uma possível recessão econômica.

Walliser relata que teve que despriorizar planos importantes, como comprar um carro novo, fazer uma grande viagem ou até mesmo tentar ter o segundo filho. “Estamos economizando o máximo que podemos, acumulando dinheiro como uma forma de nos prepararmos para o que está por vir”, diz ela. Essas inseguranças não são exclusivas a sua família, muitos americanos estão enfrentando o mesmo cenário de instabilidade econômica.

Os efeitos das tarifas e das mudanças políticas estão sendo sentidos em toda a economia. O Federal Reserve, órgão responsável por controlar a política monetária dos EUA, enfrenta um cenário desafiador enquanto tenta equilibrar o crescimento econômico e a inflação. Embora muitos especialistas acreditem que as taxas de juros permanecerão inalteradas em sua próxima reunião, a expectativa sobre o futuro está dividida, com analistas preocupados com o impacto das tarifas sobre os preços e o crescimento econômico.

Dave Gold, um profissional de finanças de Wyoming, também está ajustando seus gastos. Após uma queda em seus investimentos, ele criou um orçamento mais rígido, cancelando serviços como Netflix e reduzindo gastos com viagens. “Acho que é hora de conter os gastos e me proteger, caso as coisas piorem”, afirma. Essas mudanças de comportamento estão sendo refletidas em números: as vendas de varejo caíram, e empresas como Walmart e Delta Air Lines alertaram sobre uma demanda em diminuição.

Sentindo-se cada vez mais apreensivos com o mercado de trabalho e a inflação, os consumidores estão mudando seus hábitos de consumo. Um estudo da Universidade de Michigan revelou que a preocupação com o mercado de trabalho atingiu o nível mais alto desde a Grande Recessão, e as expectativas de inflação de longo prazo tiveram um aumento significativo. O economista Jay Bryson, da Wells Fargo, destaca que essas mudanças não indicam um colapso do consumidor, mas é possível observar “fissuras” na confiança do consumidor, o que pode impactar toda a economia.

Ainda que a administração de Trump tenha reconhecido a possibilidade de “alguma perturbação”, prometeram que a dor a curto prazo levaria a benefícios a longo prazo. No entanto, muitos, incluindo o engenheiro de software Jim Frazer, permanecem céticos. Ele mencionou que as políticas parecem mudar constantemente e que isso está afetando suas decisões de compra. Frazer, ao contrário de Walliser, comprou um novo telefone e televisão no final do ano passado, mas agora está sendo mais cauteloso com os novos gastos, preferindo manter o dinheiro guardado para tempos incertos.

Nos Estados Unidos, onde o consumo representa cerca de dois terços da economia, essa retração no gasto pode ter consequências significativas, levando, segundo Bryson, a um aumento nas chances de uma recessão, hoje estimadas em um em cada três.

Texto escrito com base no artigo.