A Queda do Futebol Chinês: De Sonho a Vergonha

Na noite quente e úmida de quinta-feira em Saitama, a seleção de futebol da China viveu um dos momentos mais vexatórios de sua história ao sofrer uma derrota de 7 a 0 para o Japão nas eliminatórias da Copa do Mundo. Essa derrota, descrita como “o fundo do poço” por um jornal de Xangai, ocorreu após uma série de derrotas humilhantes, incluindo jogos contra Oman e Hong Kong. Uma semana depois do jogo contra o Japão, o cenário ficou ainda mais sombrio com a prisão de dezenas de jogadores e oficiais por corrupção, incluindo manipulação de resultados e suborno. E as derrotas continuaram: na terça-feira, a Austrália venceu a China por 2 a 0, mantendo a equipe na lanterna do seu grupo na eliminatória.
O sonho da China se tornar uma potência no futebol parecia próximo quando o presidente Xi Jinping, apaixonado pelo esporte, assumiu o poder em 2012. Xi expressou seu desejo de que o país se qualificasse, organizasse e, finalmente, ganhasse uma Copa do Mundo. No entanto, dez anos depois, até mesmo Xi parece ter perdido a fé. Recentemente, ele comentou que a seleção da China “teve sorte” em uma vitória recent.
O fracasso do futebol chinês se torna uma vergonha nacional, levando a uma busca incessante por entender os motivos. Para muitos, a resposta é clara: as decisões são impostas de cima para baixo pelo Estado de partido único, o que pode funcionar bem para o crescimento econômico, mas falha em esportes coletivos competitivos. A política de interferência nos esportes é uma constante, com nomeações políticas prevalecendo sobre a experiência real no futebol, prejudicando o desenvolvimento de um sistema saudável de ligas.
Enquanto isso, o futebol na China carece de uma base sólida. O número de jogadores registrados na Inglaterra, por exemplo, supera 1,3 milhão, enquanto a China conta com menos de 100 mil. As crianças chinesas não crescem jogando bola, o que se reflete na falta de talentos no alto nível. A estrutura do futebol no país se mostra invertida, sem um suporte adequado, e o sistema se caracteriza por medidas de curto-prazista que sacrificam o aprendizado a longo prazo em troca de resultados imediatos.
Apesar das falências de clubes e da ascensão de escândalos de corrupção, como o do ex-técnico Li Tie, que admitiu subornar para conseguir cargos, a paixão pelo futebol permanece viva. A equipe feminina do país, por outro lado, é uma fonte de orgulho, embora os problemas enfrentados pelo futebol masculino se tornem cada vez mais evidentes. A média de público da Super Liga Chinesa ainda é a mais alta da Ásia, demonstrando que, apesar das dificuldades, o amor pelo jogo persiste.
Os desafios econômicos do país também pesam no futebol, com a indústria enfrentando um período de dificuldades financeiras. Entretanto, entre os torcedores, a decepção com a seleção masculina é palpável. Após a derrota para o Japão, muitos se questionaram sobre o futuro do futebol na China. Um conhecido jornalista ainda ressaltou que a melhoria do futebol chinês não poderia vir de discursos, mas sim de habilidades e treinamento físico e tático, longe das influências políticas.
Artigo redigido com base no texto.