Por que a Índia Resiste em Comprar Milho Americano?

Recentemente, o Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, questionou por que a Índia não compra milho americano, criticando as políticas comerciais do país. Ele acusou a Índia de bloquear os agricultores americanos e pediu que o país abrisse seu mercado agrícola, sugerindo a adoção de cotas como possível abordagem.
A agricultura é um campo crucial na crescente guerra comercial entre os EUA e a Índia, com tarifas recíprocas programadas para entrar em vigor em 2 de abril. O presidente dos EUA, Donald Trump, tem rotulado a Índia como ‘rei das tarifas’, destacando a proteção excessiva que o país impõe ao seu setor agrícola. Washington tem pressionado por maior acesso à agricultura indiana, considerada um mercado importante a ser explorado.
Historicamente, a Índia fez uma transição de um país dependente de ajuda alimentar para se tornar uma potência agrícola autossuficiente, sendo o maior produtor mundial de leite e um importante exportador de grãos e produtos agrícolas. Apesar dessa evolução, a agricultura indiana enfrenta desafios significativos em termos de produtividade e infraestrutura, sendo que a maioria dos agricultores trabalha com pequenas áreas de terra.
Os altos impostos de importação, que variam de zero a 150%, têm sido uma barreira para a entrada de produtos agrícolas americanos no mercado indiano. Em comparação, os produtos indianos enfrentam tarifas bem mais baixas nos EUA. Essa disparidade tem afetado o comércio agrícola entre os dois países, que totaliza apenas cerca de US$ 8 bilhões.
Enquanto a Índia exporta produtos como arroz e camarões, os EUA estão interessados em exportar commodity como trigo e milho, o que se soma ao déficit comercial de US$ 45 bilhões que os EUA têm com a Índia. Analistas alertam, no entanto, que impor condições para a redução das tarifas pode prejudicar os agricultores pequenos indianos.
O setor agrícola da Índia não apenas rodeia questões de comércio, mas também enfrenta dificuldades internas, como falta de capacidade de investimento e infraestrutura deficiente. O governo indiano, por sua vez, mantém tarifas e apoio aos preços para proteger a renda de milhões de pequenos agricultores, que são essenciais para a economia rural do país.
As complexidades nas negociações comerciais com os EUA se intensificam devido ao desejo americano por acesso ao mercado agrícola da Índia, enquanto o país deve equilibrar essas demandas com a proteção de seus próprios interesses. Especialistas advogam que a Índia deve resistir à pressão para abrir seu setor agrícola, em defesa da segurança alimentar e dos meios de subsistência de seus agricultores.
Para avançar, a Índia precisará modernizar sua agricultura e torná-la mais competitiva no mercado global. É primordial que o país encontre um equilíbrio nas negociações, garantindo que interesses americanos não venham a comprometer a segurança alimentar ou a economia rural indiana.
Concluindo, se a Índia deseja negociar de maneira eficaz, precisará manter sua posição forte nas discussões comerciais, garantindo que sua agricultura não seja desestabilizada em paz e que suas prioridades agrícolas estejam sempre alinhadas com o desenvolvimento sustentável e a proteção econômica de seu povo.