Impacto dos Novos Impostos de Trump na Economia Irlandesa

A expectativa em torno dos novos impostos anunciados pelo Presidente Trump, que devem ser divulgados nesta semana, é de que a Irlanda seja um dos países mais afetados. Com uma tarifa de aproximadamente 20% para produtos da União Europeia (UE) que entraram nos Estados Unidos, o impacto será significativo, considerando que a Irlanda é a nação da UE que mais depende do mercado americano para suas exportações.
Em 2024, as exportações irlandesas para os EUA representaram cerca de €73 bilhões, quase um terço do total das exportações do país. As tarifas são, essencialmente, taxas sobre produtos importados, criadas pelos governos para proteger os fabricantes locais da concorrência internacional. O Taoiseach (Primeiro-Ministro irlandês) Micheál Martin descreveu essas tarifas aumentadas como “uma ameaça muito grave e séria” para a economia nacional.
Uma análise colaborativa do Departamento de Finanças da Irlanda e do think tank ESRI sugere que os novos impostos poderiam resultar em uma perda de comércio superior a €18 bilhões, além de alertar sobre os riscos a longo prazo de uma guerra comercial prolongada entre EUA e UE, o que comprometeria as finanças públicas da Irlanda. A preocupação é evidente, especialmente em cidades e vilarejos que se beneficiaram da presença de empresas americanas por décadas, com o emprego sendo gerado em diversas comunidades.
Um exemplo claro é a fabricante Combilift, que realiza cerca de um quarto de suas vendas no mercado americano e emprega 50 pessoas localmente. O cofundador da empresa, Martin McVicar, adianta que congelará os preços dos produtos em dólares para oferecer uma previsibilidade a seus clientes norte-americanos em meio a incertezas tarifárias. Isso demonstra uma tentativa de adaptação no viu frente às mudanças vindouras.
O setor farmacêutico, que é o maior responsável pelas exportações irlandesas, também está sob escrutínio. A Irlanda é um grande centro de produção para empresas americanas como Pfizer e Eli Lilly. Em 2024, os produtos médicos e farmacêuticos representaram aproximadamente 45% das exportações totais, e o aumento na exportação desse setor foi de 29%, totalizando quase €100 bilhões. Contudo, Trump expressou descontentamento com a grande presença da indústria farmacêutica dos EUA na Irlanda e indicou a possibilidade de tarifas específicas nesse setor, embora não se esperem mudanças imediatas.
De acordo com o economista Dan O’Brien, a economia irlandesa pode ter sua estabilidade ameaçada devido à forte dependência do setor farmacêutico. Ele compara os possíveis efeitos das tarifas à crise econômica de 2008, descrevendo uma erosão gradual das fundações da economia, em vez de um colapso repentino. O Ministro de Finanças, Pascal Donohoe, fez uma análise contundente alertando que entre 50.000 e 80.000 empregos que poderiam ser criados ou mantidos estariam em risco sob o novo cenário econômico.
A Autoridade de Desenvolvimento Industrial da Irlanda (IDA) destacou que o país possui um forte investimento estrangeiro direto, com mais de 210.000 empregos diretos gerados por empresas americanas. Além disso, a Irlanda é uma fonte significativa de investimento direto no EUA, com empresas irlandesas empregando mais de 200.000 pessoas em todos os estados. O envolvimento da Irlanda em discussões diplomáticas com os EUA e a UE reflete a seriedade da situação à medida que o país lida com as repercussões potencialmente devastadoras dos próximos anúncios de tarifas.