A Farsa do Juiz Aposentado que Viveu sob uma Identidade Falsa

O intrigante caso do juiz aposentado José Eduardo Franco dos Reis, que utilizou uma identidade falsa por mais de 40 anos, chamou a atenção do Brasil após a descoberta de sua fraude. Em outubro de 2024, a tentativa de obter uma segunda via de sua carteira de identidade sob o nome fictício de Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield levou à revelação de uma longa história de enganos.
A investigação da Polícia Civil, por meio do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), revelou que os registros do nome verdadeiro e do nome fictício pertenciam à mesma biometria. Um laudo papiloscópico confirmou essa conexão, evidenciando a utilização de documentos e identidades duplas.
Ao longo de sua carreira, José Eduardo, sob sua identidade falsa, estudou Direito na Universidade de São Paulo (USP) nos anos 80 e alcançou destaque na magistratura paulista, inclusive coordenando um núcleo da Escola Paulista da Magistratura. Sua entrada na magistratura foi marcada por declarações que falavam de sua ascendência em uma suposta nobreza britânica.
Contudo, a ID fictícia não trouxe apenas vitórias. A Polícia Civil, após investigação, descobriu que ele possuía documentos oficiais, incluindo dupla inscrição eleitoral e no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), e até um passaporte, o que possibilitou sua saída do país após o escândalo ser revelado. O caso levou o Ministério Público de São Paulo (MPSP) a denunciá-lo por uso de documento falso e falsidade ideológica, resultando na aceitação da denúncia e na suspensão de sua aposentadoria.
A National Crime Agency do Reino Unido, por meio de consulta, não encontrou registros para os nomes usados por ele, o que evidencia que a construção da identidade foi totalmente fictícia. As razões que o levaram a criar e manter essa falsa identidade permanecem um mistério, e o caso segue em sigilo de justiça.
David Moreira, advogado de José Eduardo, foi contatado, mas ainda não se manifestou sobre o ocorrido. O episódio levanta questões pertinentes sobre a vigilância em processos de verificação de identidade e a necessidade de uma análise mais aprofundada das histórias pessoais dos profissionais da justiça.