Tragédia no Brás: ambulante senegalês é morto pela polícia

Na última sexta-feira (11), um trágico incidente no Brás, São Paulo, resultou na morte do ambulante senegalês Ngange Mbaye, de 34 anos. Ngange foi baleado por um policial militar durante uma abordagem, que, segundo a polícia, visava apreender mercadorias irregulares. Infelizmente, o ambulante não tinha históricas de irregularidade em seus produtos, que consistiam em chinelos coloridos. O episódio, que deixou sua companheira grávida de sete meses, lançou uma sombra sobre as lutas enfrentadas por migrantes e trabalhadores informais no Brasil.
Adriano Santos, advogado da companheira de Ngange, Ângela, informou que o casal planejava realizar o chá de bebê no sábado, um dia após a morte trágica de Ngange. A expectativa de alegria se transformou em uma luta judicial, já que ele planeja processar o Estado em busca de indenização e pensão, dada a situação de vulnerabilidade em que Ângela se encontra. Sem parentes próximos em sua nova terra, ela se vê diante de um futuro incerto, sem apoio familiar para cuidar do recém-nascido que está por vir.
O advogado destacou a importância de lutar pelos direitos de Ângela, uma mulher que trabalhou ao lado de Ngange por cerca de um ano. “Quem vai ajudar ela a cuidar da criança? Ela não tem ajuda de ninguém agora”, expressou Adriano, ressaltando a necessidade de se garantir um suporte financeiro para que ela possa sustentar a família que agora está à sua responsabilidade.
A versão da Polícia Militar, no entanto, difere. Em seu relato, durante a abordagem, Ngange teria reagido de forma agressiva, utilizando uma barra de ferro contra os oficiais. Um policial teria sido ferido, mas a equipe conseguiu socorrê-lo. Ngange, por outro lado, foi estabilizado no local, porém, não resistiu aos ferimentos causados pela ação dos policiais. Essa discrepância nas versões levanta questões sobre a abordagem policial e os métodos usados em situações envolvendo ambulantes e trabalhadores informais.
Após o ocorrido, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que um Inquérito Policial Militar (IPM) será instaurado para investigar a morte de Ngange, e o policial envolvido foi afastado de suas funções. A medida é uma tentativa de apurar os fatos com maior responsabilidade. Entretanto, a dor da perda e a luta de Ângela ainda se sobressaem, mais emblemáticas de uma comunidade que frequentemente enfrenta o racismo e a precarização em suas rotinas de trabalho.
A trágica história de Ngange Mbaye reverbera na luta por direitos, dignidade e justiça para migrantes e trabalhadores informais em todo o Brasil. O Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC) se manifestou em nota de pesar, expressando solidariedade à família de Ngange e à comunidade senegalesa. O órgão destacou a importância de reconhecer e combater as discriminações enfrentadas pelos migrantes, que continuam lutando por um trabalho justo e seguro em meio a um cenário de violência e xenofobia.