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A Caxemira e o Tabu da Mediação Internacional

A mediação de terceiros na disputa da Caxemira entre Índia e Paquistão sempre foi um tema sensível para a Índia, especialmente com a intervenção do ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Recentemente, Trump alegou que ambos os países concordaram com um cessar-fogo total, mediado pelos EUA, o que gerou desconforto em Nova Délhi e reações variadas em Islamabad.

A disputa sobre a Caxemira, que remonta a 1947, tem sido marcada por conflitos e tentativas de diálogo que não resultaram em soluções efetivas. A Índia considera a Caxemira uma parte integral de seu território e rejeita a participação de terceiros nas negociações, conforme estabelecido no Acordo de Simla de 1972, que prioriza as negociações bilaterais.

O recente aumento da tensão surgiu após a Índia realizar ataques aéreos dentro do Paquistão, alegando que era uma resposta a atentados terroristas que resultaram na morte de 26 pessoas em sua região administrada. A Índia acusou o Paquistão de estar envolvido, uma negação que Islamabad fez. A situação se intensificou com o uso de aeronaves de combate e mísseis, levando Trump a intervir em um momento crítico.

A reação na Índia foi de ceticismo e descontentamento. Analistas indianos, como Shyam Saran, ex-secretário de Relações Exteriores, ressaltaram que a intervenção de Trump vai contra a política da Índia de não aceitar mediação de terceiros. Em contrapartida, o governo paquistanês recebeu as declarações de Trump com otimismo, vendo nisso uma oportunidade para uma solução internacional da disputa da Caxemira.

Desde a retirada do status especial da Caxemira pela Índia em 2019, a dinâmica da questão se tornou ainda mais delicada. Os principais partidos da oposição no país questionaram a possibilidade de abertura a mediações externas, chamando o governo a esclarecer a situação. Para muitos, a intervenção dos EUA pode ser vista como uma tentativa de ‘internacionalizar’ a questão em vez de resolvê-la de maneira bilateral.

Historicamente, qualquer tentativa de diálogo entre a Índia e o Paquistão tem sido dificultada pelas intervenções do exército paquistanês, que muitas vezes minou acordos civis. O episódio de Kargil em 1999 é um exemplo claro das dificuldades de negociações quando o establishment militar do Paquistão não cumpre acordos feito por figuras civis.

Apesar de não ter uma resposta formal ao presidente Trump, o governo indiano, através de seu ministro das Relações Exteriores, Subrahmanyam Jaishankar, reafirmou sua posição firme contra o terrorismo e a falta de disposição para retomar diálogos bilaterais com o Paquistão.

Por outro lado, especialistas paquistaneses argumentam que a mediação de uma superpotência como os EUA é necessária devido à falta de confiança entre os dois países e à escalada recente das tensões. Para muitos, a Caxemira deve ser tratada como uma questão de segurança global e merece atenção internacional.

A Índia, em ascensão como potência econômica, deve encontrar um equilíbrio delicado entre o desejo por uma boa relação comercial com os EUA e a necessidade de manter sua posição firme sobre a Caxemira, evitando qualquer coisa que possa ser interpretada como uma abertura a mediação externa. Isso se torna cada vez mais complicado com a pressão da política nacional e a necessidade de manter uma imagem internacional forte.