O Segredo da Durabilidade do Concreto Romano

Dentre as grandezas da arquitetura romana, algumas das estruturas mais impressionantes ainda se erguem após quase dois milênios. O Panteão em Roma, os aquedutos de Segóvia na Espanha e os banhos romanos na Inglaterra são apenas alguns exemplos. Essas obras sobrevivem ao teste do tempo em grande parte devido a um ingrediente especial: o concreto romano. Este composto extraordinário levanta questões: o que torna o concreto romano tão único? Como ele conseguiu resistir ao passar dos séculos?
Para entender as qualidades do concreto romano, é importante saber como o concreto, de forma geral, é produzido. O concreto contemporâneo começa com cimento, uma substância em pó que se transforma em pasta ao ser misturada com água. O cimento moderno, conhecido como cimento Portland, possui uma vida útil de 75 a 100 anos, dependendo das condições ambientais. Em contraste, o concreto romano, desenvolvido desde o século III a.C., apresenta características que o tornam muito mais duradouro.
Um dos segredos da resistência do concreto romano está em sua composição. Os romanos utilizavam a pozolana, uma cinza vulcânica, extraída principalmente da cidade de Pozzuoli, para reforçar a mistura. Essa cinza contém sílica e alumina que reagem com a cal e a água, gerando uma reação pozolânica que resulta em um concreto mais forte e duradouro.
Além disso, outra característica marcante do concreto romano são os clastos de cal, que são pequenos fragmentos de cal viva. Esses clastos conferem ao concreto a capacidade de se autocurar. Quando as estruturas de concreto sofrem desgastes e fissuras, a água que infiltra as fendas alcança os clastos, levando a uma reação que produz cristais de calcita, preenchendo assim as rachaduras. Um exemplo notável disso é a Tumba de Cecília Metela, que apresenta fissuras preenchidas com calcita, indicando que a água ativou os clastos em algum momento ao longo de seus 2.000 anos.
Um estudo recente do MIT destacou como a mistura de clastos de cal durante o processo de fabricação do concreto romano contribui para essa autocura. A metodologia de mistura quente, que envolve o aquecimento da cal com pozolana, permite que os clastos sejam preservados, ao contrário do processo moderno, que descarta essa formação ao moer o clínquer em um pó fino.
Ainda não se sabe definitivamente se os romanos compreendiam totalmente a ciência que regia a sua receita de concreto, mas as suas construções sobreviventes nos falam sobre a habilidade e a engenhosidade de seus engenheiros. As características únicas do concreto romano não apenas sustentaram as grandes obras da civilização romana, mas também continuam a intrigar e inspirar engenheiros e cientistas até hoje.
Ao visitarmos essas estruturas, como o Panteão e os aquedutos, temos a chance de tocar em algo que tem 2.000 anos e permanece tão sólido quanto no dia em que foi moldado. Essa durabilidade é um testemunho do legado dos romanos e da astúcia dos seus métodos de construção.