Uma Baiana em Luta: Justiça e Racismo na Praia do Forte

Jucione Manuelle, uma renomada baiana de receptivo, vive um momento difícil após sofrer uma acusação de roubo na Praia do Forte, um dos mais famosos destinos turísticos do litoral norte da Bahia. Conhecida como “Baiana sem freio”, ela possui uma trajetória de aproximadamente 25 anos, vestindo trajes típicos e recebendo turistas em busca de fotografias e experiências culturais. No entanto, sua vida profissional foi interrompida nos últimos dias, após um incidente que deixou marcas profundas em sua dignidade e autoestima.
O problema começou quando, na última sexta-feira (28), Jucione foi fotografar com uma turista argentina. Ao tentarem efetuar o pagamento, a turista relatou que sua carteira estava desaparecida e, sem hesitar, acusou Jucione de roubo. Em um ato de desespero para provar sua inocência, Jucione se viu forçada a se despir de suas roupas tradicionais. “Foi a única maneira que eu achei de me defender, porque eu estava sendo acusada de um roubo, uma coisa que eu não fiz”, contou emocionada.
O desfecho da história foi surpreendente e angustiante. A carteira foi encontrada pouco depois em uma loja que a turista tinha visitado anteriormente. Entretanto, a situação não se tornou menos vexatória para Jucione. A polícia foi chamada e todos os envolvidos foram levados à delegacia de Lauro de Freitas. Durante a espera para registrar a ocorrência, Jucione relatou uma tentativa de suborno por parte do marido da turista, que ofereceu R$ 250 para que ela não levasse o caso adiante.
Além de toda a humilhação e insegurança financeira que este episódio lhe causou, Jucione também se depara com os traumas do racismo. Ela afirma que acredita que sua cor de pele fez a turista agir de forma tão agressiva. “Duvido que ela fizesse o mesmo com uma branca do cabelo liso,” desabafou Jucione, chamando a atenção para o preconceito que muitas mulheres negras ainda enfrentam na sociedade.
Com 48 anos e várias lutas para garantir o sustento de sua família, Jucione agora depende de ajuda financeira que vem através das redes sociais. “Estou sem trabalhar há vários dias, e graças a pessoas solidárias que fazem PIX para mim, estou conseguindo me manter,” afirmou. Enquanto isso, ela busca por justiça e reafirma sua integridade: “Nunca roubei, não tenho passagem pela polícia, e jamais vi um colega de profissão agir dessa forma.”
A história de Jucione é um retrato da violência não física, mas emocional que muitas mulheres negras enfrentam em suas rotinas, refletindo uma estrutura ainda desigual na sociedade. Seu apelo por justiça ecoa não apenas em sua condição de baiana de receptivo, mas como uma luta contra o racismo e a desumanização que permeia as relações cotidianas.