Eleições no Canadá: energia vs. mudança climática

Nas eleições federais do Canadá, a ameaça representada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, está ofuscando a questão do aquecimento global. As propostas dos candidatos principais giram em torno de novas infraestruturas energéticas, já que o país busca reduzir sua dependência dos Estados Unidos. Marc Carney, líder dos Liberais, promete transformar o Canadá em uma potência global tanto em energia convencional quanto em energia verde, enquanto os Conservadores, sob a liderança de Pierre Poilievre, visam revitalizar o setor de petróleo e gás e eliminar o imposto sobre carbono industrial.
Essa mudança de foco é um contraste marcante em relação às eleições de 2021, quando a preocupação com o meio ambiente era uma prioridade para os eleitores. Naquela ocasião, havia um consenso entre os principais partidos sobre a necessidade de uma transição rápida para uma economia verde, culminando com a aprovação de uma lei de emissões líquidas zero em junho do mesmo ano. Atualmente, essa unidade parece estar desaparecendo.
Desde que Carney assumiu como primeiro-ministro, sua primeira ação foi revogar o imposto sobre carbono, uma medida climática emblemática dos Liberais. Essa revogação, embora vista por alguns como uma jogada política inteligente, também é criticada como um erro, pois perpetua a narrativa de que políticas climáticas são uma carga financeira.
O foco de Carney é fazer do Canadá uma superpotência em energia, abordando tanto projetos de energia limpa quanto convencional, sem entrar em muitos detalhes. Sua campanha também menciona tecnologias como captura de carbono. No entanto, pesquisas indicam que as preocupações dos canadenses com o clima diminuíram, com o aumento das preocupações sobre custos de vida e energia.
Pierre Poilievre, por sua vez, está apostando em questões de custo de vida e em uma agenda de lei e ordem, além de opiniões sobre o que considera ser assuntos ‘woke’. Ele propõe uma expansão significativa das indústrias de petróleo e gás e a remoção do imposto sobre carbono. Sua posição sobre as metas de emissão líquida zero ainda não está clara, mas ele acredita que substituir o carvão poluente indiano por petróleo e gás canadenses seria benéfico para o mundo.
Essa abordagem conservadora pode atrair eleitores, mesmo que a ampliação da produção não seja sustentável a longo prazo. O ambiente eleitoral é influenciado, também, pela preocupação com a mudança de relação com os EUA, especialmente no setor de petróleo e gás, onde o Canadá é o maior fornecedor estrangeiro e qualquer tarifação pode impactar seriamente a economia.
Além das propostas energéticas, as preocupações sobre os desafios climáticos se intensificam, com relatórios apontando perdas financeiras significativas devido a fenômenos climáticos, aumentando os pedidos para um compromisso firme do governo em relação às metas de redução de emissões. Embora Carney e Poilievre promovam uma forte presença de combustíveis fósseis na economia, essa direção colide diretamente com os compromissos climáticos do país, levando críticos a acusá-los de negação em relação à mudança climática.