PKK anuncia desarmamento: o futuro da questão curda

O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo curdo considerado ilegal, anunciou que irá desarmar e se desbandar após 40 anos de insurgência contra a Turquia. Essa decisão foi influenciada por um apelo feito em fevereiro pelo líder do grupo, Abdullah Ocalan, que está preso desde 1999.
Històricamente, a insurgência do PKK tinha como objetivo a criação de uma pátria independente para os curdos, que representam cerca de 20% da população turca. No entanto, com o passar dos anos, os objetivos do grupo mudaram, focando-se agora em buscar maior autonomia e direitos para a população curda, ao invés da separação total.
Desde o início do conflito, mais de 40 mil pessoas perderam a vida. Embora o PKK seja considerado uma organização terrorista por países como Turquia, União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos, o grupo emitiu uma declaração através da agência de notícias ANF, afirmando que “completou sua missão histórica” e que encerrará a luta armada, passando a buscar soluções para a questão curda através da política democrática.
A última carta enviada por Ocalan, que completará 77 anos em abril, reiterou que a democracia é o caminho a seguir para a realização de um sistema político eficaz. Apesar do desarmamento, ainda não está claro o que os curdos e Ocalan podem esperar em troca disso. Há especulações sobre a possibilidade de uma liberdade condicional para Ocalan, além de esperanças por um novo diálogo político.
Ambas as partes – o PKK e o governo turco – têm razões para buscar um acordo neste momento. O PKK tem sofrido severas perdas por ações do exército turco nos últimos anos, e as mudanças regionais dificultaram a atuação do grupo e de seus aliados no Iraque e na Síria. Por sua vez, o presidente Recep Tayyip Erdogan precisa do apoio de partidos políticos pró-curdos para conseguir concorrer nas eleições presidenciais de 2028.
A decisão de desbandar é uma etapa significativa em direção a uma ‘Turquia livre de terrorismo’, conforme afirmou um porta-voz do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) do presidente Erdogan. Winthrop Rodgers, pesquisador do Chatham House, destacou que, para que as demandas dos partidos políticos curdos sejam atendidas, será necessário uma ampla transição democrática na Turquia.
Rodgers ainda mencionou que, nos últimos meses, houve um sinal de boa vontade de alguns líderes turcos, que pode ter contribuído para a decisão do PKK. Apesar disso, a extensão dessas mudanças necessárias para garantir a plena participação curda na política e na sociedade ainda é incerta. As próximas ações agora estão nas mãos da Turquia.