Entenda o que está acontecendo na cracolândia

Desde o último sábado, muitos locais conhecidos como as últimas paradas do fluxo de usuários de drogas na cracolândia de São Paulo estão esvaziados. No entanto, as autoridades de segurança pública, tanto da prefeitura quanto do governo do estado, não afirmam que a cracolândia acabou. Existe uma razão para isso: o histórico deslocamento do fluxo de usuários.
As migrações dos usuários da cracolândia não são recentes. Elas ocorrem tanto de maneira espontânea quanto em resposta a operações policiais. Grupos de usuários já passaram por diversas áreas, como praças, ruas e alamedas do centro de São Paulo. Atualmente, há registros de movimento em regiões como o bairro Campos Elísios e o Minhocão, que estão se tornando novos destinos para os usuários que saem da cracolândia.
De acordo com ativistas e profissionais de saúde que atuam na região, as ações de repressão e violência exercidas pelas forças de segurança têm contribuído para esses deslocamentos. Por outro lado, as autoridades sustentam que suas ações estão tendo um impacto positivo, levando ao enfraquecimento do tráfico na área.
Seis fatores principais ajudam a explicar o esvaziamento recente da cracolândia. Primeiro, as sequências de operações na favela do Moinho, considerado o QG do PCC (Primeiro Comando da Capital) que abastece a cracolândia. Apesar das tentativas de demolição de casas no local, a resistência de moradores tem causado tensão e protestos.
Em segundo lugar, as operações também provocaram o deslocamento de traficantes e usuários para a favela do Gato, uma comunidade próxima, conforme levantamentos de inteligência. Isso é parte de um terceiro fator: com trafico desmobilizado, a distribuição de drogas na cracolândia começou a sofrer limitações, resultando na falta de oferta de substâncias ilícitas.
O quarto fator é o uso de cães farejadores pela Guarda Civil Metropolitana, que tem dificultado o transporte de drogas até as áreas mais conhecidas pelos usuários. Por conta dessa diminuição na oferta, um quinto fator surge: o número de internações de usuários tem aumentado significativamente, alcançando recordes nas últimas semanas. A escassez de drogas gera sintomas de abstinência, impulsionando o aumento das internações para tratamento.
Por último, as questões climáticas também influenciam o fluxo de usuários. Como é comum em áreas urbanas, os indivíduos na cracolândia são suscetíveis às variações de temperatura. No domingo, por exemplo, a cidade passou por dias mais frios e chuvosos, o que foi destacado como um fator secundário, embora contribua para a diminuição do número de pessoas nas ruas.