Tuta e o PCC: A Embaixada do Crime na Bolívia

Recentemente, a prisão de Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, revelou a crescente presença do Primeiro Comando da Capital (PCC) no país vizinho. Considerado um dos principais líderes da facção fora do sistema prisional, Tuta estava foragido desde 2021 e sua localização em solo boliviano acendeu o alerta das autoridades brasileiras sobre a criação do que muitos chamam de “embaixada do crime” na região.
As informações sobre a prisão de Tuta, que ocupava espaço considerado estratégico para o tráfico, mostram uma realidade alarmante. O promotor Lincoln Gakiya, envolvido nas investigações, destaca as fragilidades do sistema boliviano como um facilitador para a permanência de líderes do PCC, não só Tuta, mas possivelmente muitos outros foragidos que também buscam abrigo no país.
Segundo relatos, as autoridades brasileiras acreditam que a Bolívia se tornou um destino favorito para criminosos devido à corrupção que permeia a polícia local. Essa situação cria um ambiente propício para que as atividades ilegais do tráfico de drogas e do crime organizado prosperem sem muita interferência. Em decorrência disso, muitos líderes do PCC vivem na Bolívia, utilizando documentos falsos, sempre contando com a colaboração de agentes corruptos.
O foco da operação de Tuta na Bolívia se aprofundava no financiamento das atividades do PCC, sendo ele apontado como o principal responsável por movimentar cerca de R$ 1 bilhão entre 2018 e 2019 através de um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro. Essa atuação internacional do crime organizado transforma a Bolívia em um ponto estratégico para o tráfico de drogas, pois de lá é mais fácil coordenar ações no Brasil.
Na prática, a “embaixada do crime” estabelecida em Santa Cruz de la Sierra permite que líderes do PCC operem imperturbavelmente. Tuta, por exemplo, estava diretamente envolvido no tráfico e no controle financeiro da facção, agindo a partir da Bolívia e traçando planos para a expansão das operações ilícitas em território brasileiro. A coordenação de seus negócios, portanto, transcende as fronteiras, olhando para a América do Sul como um todo.
A prisão de Tuta se deu quando ele se apresentou em uma unidade policial boliviana para tratar de questões migratórias, utilizando um documento falso brasileiro. Através de uma base biométrica, a Polícia Federal brasileira conseguiu confirmar sua identidade real, resultando na detenção do criminoso. Essa operação evidencia a eficácia das novas tecnologias no combate ao crime organizado, mesmo diante de condições adversas.
Por fim, a situação revela um desafio significativo para as autoridades, que precisam estar atentas não apenas à atuação de grupos como o PCC, mas também à ineficiência e à corrupção que podem ser exploradas por narcotraficantes e outros criminosos. O “escritório remoto” do PCC na Bolívia é um sintoma da fragilidade do sistema de segurança e da necessidade urgente de colaboração internacional e estratégias efetivas de combate ao tráfico de drogas.