Fofoca ou Babaleia?

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China aposta em subsídios para reviver consumo e economia

O governo chinês anunciou uma série de medidas para estimular a economia, incluindo novos subsídios para creches, aumento de salários e melhoria nas licenças remuneradas. Essas ações fazem parte de um programa de desconto de US$ 41 bilhões que abrange diversas categorias, desde eletrodomésticos até veículos elétricos. A intenção de Pequim é incentivar a população a gastar mais, já que o consumo atual está aquém do necessário para a revitalização econômica.

Dados recentes mostraram um crescimento de 4% nas vendas no varejo nos primeiros meses de 2025, mas, exceto em algumas cidades como Xangai, os preços de casas novas e usadas continuam a cair. Enquanto países como os EUA enfrentam inflação pós-Covid, a China lida com a deflação, um fenômeno que provoca a queda contínua dos preços. Essa situação demonstra uma crise mais profunda: a diminuição do consumo indica que os cidadãos estão relutantes em gastar, seja por falta de dinheiro ou por insegurança sobre o futuro econômico.

Com uma meta de crescimento de 5% para este ano, o presidente Xi Jinping busca urgentemente reverter esse cenário. Durante o último Congresso Nacional do Povo, lideranças chinesas propuseram virar o foco em programas sociais e soluções para aumentar a confiança do consumidor, como o aumento dos salários e uma rede de seguridade social mais robusta. Cerca de um quarto da força de trabalho na China é composta por migrantes de baixa renda com acesso limitado a benefícios urbanos, tornando-os vulneráveis em períodos de incerteza econômica, como foi o caso da pandemia.

Historicamente, o crescimento dos salários durante a década de 2010, que trouxe um aumento médio de 10% ao ano, ajudou a mascarar algumas das dificuldades. Contudo, a desaceleração salarial na atual década fez com que muitos voltassem a economizar. Os problemas no mercado imobiliário também afastaram os consumidores, que preferem poupar a gastar em um cenário de instabilidade.

Análises apontam que o custo elevado de criar filhos na China, estimado em 6,8 vezes o PIB per capita, é outro fator que impede o aumento da natalidade e, consequentemente, do consumo. Mesmo em momentos de crise econômica, os lares chineses conseguiram poupar 32% da renda disponível em 2024, refletindo uma cultura de economia que se intensificou desde a pandemia.

A confiança do consumidor, anteriormente alimentada por promoções e um entendimento quase hedonista sobre compras online, foi abalado. Exemplos como o “Double 11”, um dos dias de compras mais movimentados do mundo, mostram a retração no consumo, já que vendas recentes não tiveram desempenho significativo.

Além disso, a preocupação com o futuro fez os consumidores mudarem seus hábitos, trocando produtos caros por alternativas mais baratas. Marcas de luxo que antes registravam vendas massivas na China, como LVMH e Burberry, agora enfrentam quedas nos lucros. As redes sociais têm revelado um termo chamado “downscaling da consumo”, onde os usuários compartilham dicas de como economizar em suas compras.

A economia chinesa, antes altamente dependente de exportações, agora precisa incentivar um mercado interno mais robusto. Com a crescente pressão de países ocidentais para diversificar suas cadeias de suprimentos, o foco interno se torna uma questão crítica.

Para que o consumo possa realmente impulsionar o crescimento, muitos analistas afirmam que é necessário que o Partido Comunista Chinês recupere a confiança dos consumidores. Isso representa não apenas uma mudança econômica, mas uma transformação cultural, onde a mania de poupança deve dar lugar ao hábito de gastar. Entretanto, esse objetivo pode ser desafiador, uma vez que está enraizado em um modelo de crescimento que tem sido essencial para a evolução política e econômica da China nas últimas décadas. A complexidade de mudar essa estrutura pode resultar em resistências significativas, já que a liderança pode priorizar a estabilidade nacional em detrimento do bem-estar individual.

Leia o texto original em: https://www.bbc.com/news/articles/cx2gk8j06r0o